sexta-feira, 18 de junho de 2010

Rubens Lemos

CRAQUE EM PRIMEIRO LUGAR .


Recebe a pecha de ultrapassado(no mínimo), quem defende, por convicção, o talento em primeiro lugar. O brilho de um estilo, o sol de uma virtude, a elegância de um especialista. Hoje, segue como entulho mais indesejado ao armário dos esquecimentos, quem valoriza e exalta a superioridade do craque.


Em qualquer campo, de futebol ou de vida, haverá alguém a ser olhado com a expectativa da cortina a ser aberta, da interpretação mágica num filme, do drible sensual e do chute, com efeito, gol feito sutilmente, devagar, ritmo da bola em perfeito compasso com o do coração dominado. Delícia de orgasmo.


Não é preciso ser diferente para apreciar os que estão acima da média. Basta ter a humildade de medir a exatidão dos seus limites. É o que faço, até como um mantra a me acompanhar todos os dias.


Só os craques se adaptam sem se acomodar, improvisam, saltando, soberanos, do capim morto do lugar-comum, para o verde brotado da chuva, das imediações dos açudes inspiradores da poesia.


Acabo de encerrar um livro. Não mais um. O. Livro que é livro é aquele que se faz locutor mudo da grandeza das palavras simples, bonitas, tecidas, polidas com a paciência dos ourives em seus diamantes.

É Esmeralda, o Crime no Santuário do Lima, de François Silvestre. Emociona os regionalistas, contagia quem faz da leitura, companhia, do romance, novela de imaginação fértil. Tão mágico, que segura a atenção muito depois do além-fim.


François, do alto da Serra do Martins, inspirado pela ilha de temperatura amena, no arquipélago de calor oestano, produziu uma peça. Literária. Sem arrogâncias ou boçalidades, tão anti-holofote que nem lançamento em livraria fez. Comprei numa banca. O último exemplar que tinha.


O François, que um dia, rebelde contra a Ditadura Militar, foi escalado para a editoria de esportes de um jornal, a Tribuna, junto com um velho amigo e irmão de luta(ainda havia, sim, idealismo), ligado a mim por amor e sangue. Era no esporte que se exilavam os inconformados com a repressão.

O François, que sem acompanhar pouco ou nada de futebol em 1973, construiu, o que até hoje é o melhor texto sobre Alberi, Deus das alegrias libertárias das gerais e arquibancadas do elefante.

Os dois eram craques, os dois se entenderam.

Assim se eternizam.

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